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Literatura Japonesa

Magic Chalk - Maho no Choku
conto
Resumo do conto:

Argon, um pobre artista, está no seu pequeno apartamento pensando no que vai jantar. Dentro do apartamento só resta uma cadeira. O resto dos móveis foi vendido para que Argon pudesse comer. Os vários aromas de comida que vêm da rua instigam diferentes cores na mente de Argon. Ele procura algum dinheiro em seus bolsos, mas tudo que encontra é um giz vermelho.
Argon não se lembra de ter esse giz. Com fome, ele passa a desenhar na parede. Desenha uma maçã, uma faca para descascar a maçã, uma xícara de café, pão, manteiga... Então ele vai gradualmente perdendo a consciência. Quando acorda, já está escuro. Ele descobre, assombrado que os desenhos na parede sumiram e que em seu lugar tudo o que ele desenhou passou a existir. Ele come ainda meio desconfiado. Desenha outras coisas e vê que elas também se tornam reais.
Cansado, ele desenha uma cama para dormir. No outro dia de manhã acorda no chão. Pensa que foi tudo apenas um sonho, mas a cama desenhada na parede apresenta sinais de que alguém esteve dormindo nela. Argon sente dores como se tivesse caído da cama. Da maçã só restou a casca e a xícara de café está quebrada.
Ele passa o dia mendigando por comida e, ansioso, espera a noite chegar. Ele faz novo teste desenhando comidas na parede e a mágica está de volta. Ele entende então que a luz do sol é prejudicial para a transformação. Ele desenha uma bolsa com dinheiro e com esse dinheiro compra o material necessário para vedar o seu quarto contra a luz solar. No caminho de volta ele compra também um jornal e um livro de culinária com ilustrações.
Ele fica preso no seu quarto, num mundo só dele. Decide desenhar uma janela, mas a janela não se materializa. Ele entende então que precisa desenhar o que está do outro lado da janela para que ela se torne real. Esse é um momento importante de criação do seu novo mundo e ele não quer cometer erros. Passa semanas pensando no que deve desenhar do outro lado da janela. Se desenhar uma montanha ou floresta, ele estará também encarregado de desenhar a fauna e a flora.
Para se livrar da responsabilidade de criar um novo mundo sozinho, ele resolve fazer uma aposta. Ele desenha uma porta e espera que com isso a paisagem do outro lado seja definida. Quando ele abre a porta, vê que nada existe: nem nuvens, nem árvores, nem animais, nem gente. Ele entende que tem de começar a fazer tudo de novo desde o começo e sabe da responsabilidade que isso acarreta.
Ele abre o jornal e vê a foto da Miss Japão e resolve que está na hora de criar Eva. A Miss Japão não gosta da situação de estar trancada num quartinho com um homem que insiste que ele é Adão e ela Eva. Ela faz um acordo com ele. Direitos iguais. Ele deve lhe dar metade do giz para que ela fique ali com ele. Ela não entende que não é a Miss Japão, que eles tem a chance de criar um novo mundo e que se não o fizerem logo, vão morrer de fome. Ela quer sair dali e ser rica.
Ela desenha uma arma e o ameaça. Ela desenha também uma marreta para derrubar a porta e o faz. Ela atira nele, mas ao mesmo tempo em que a luz do sol toca nos objetos eles voltam a ser desenhos na parede, inclusive Eva. A ferida de Argon desaparece, mas agora ele também vai se tornando parte da parede. Ele passou semanas comendo o giz e agora seu corpo já é formado pela mesma substância dos desenhos. Os vizinhos vem ver o que é o barulho e não entendem nada. Argon se transformou num desenho na parede. Triste, Argon descobre que “não é o giz que vai refazer o mundo” e chora.



Sobre o conto:
Esse é um dos primeiros contos de Abe Kobo. Temos um narrador que começa descrevendo o local onde mora o personagem. O narrador é onisciente intruso, ele sabe o que pensa o personagem e é intruso porque emiti conceitos e opiniões. Por exemplo, quando ele fala da manteiga que Argon desenhou, não havia necessidade nenhuma de especificar dizendo que ela continha exatamente o que era anunciado no selo, manteiga e não margarina. Logo no começo, quando descreve o apartamento, o autor diz que só restaram a cadeira e Argon e pergunta por quanto tempo eles vão continuar existindo.
O conto chama a atenção pela riqueza de detalhes e as descrições de sensações. Logo no começo a fome do personagem é expressa através das imagens de cores. Embora a literatura de Abe Kobo possa ser considerada fantástica, por outro lado ele é muito realista em suas descrições. Argon vai catar o lixo que vai pelo cano de escoamento de um restaurante. Chegamos a sentir o mesmo nojo que Argon. Depois quando Argon vai pedir comida ao seu amigo, sentimos a sua vergonha.
Mesmo o giz sendo mágico, a lei da gravidade é respeitada. A xícara de café se quebra na primeira noite, ao cair no chão. Na segunda noite, o personagem tem o cuidado de desenhar uma mesa para que isso não venha a se repetir. Mesmo com fome, Argon se preocupa em testar a mágica do giz.
Uma coisa que me chamou a atenção é que o giz é vermelho assim como o casulo que se forma no conto Akai Mayu. Não sei bem o que a cor possa significar. Talvez uma esperança de recomeçar, talvez o sangue do qual todos nós somos formados.
Argon teve a sua chance de recriar o mundo, mas se esqueceu de que o mundo era só seu. Eva tinha um outro mundo, um mundo no qual Argon estava fadado a morrer de fome.


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