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Literatura Japonesa

Mulher das dunas
Um breve resumo do livro de Abe Kobo

Um homem comum, professor de segundo grau, que paga seus impostos em dia etc., desaparece misteriosamente quando vai ao litoral. Ele estava aproveitando um feriado para catar insetos, que coleciona. Caminhando pelas dunas sem fim a procura de pequenos insetos, ele acaba encontrando moradores locais que parecem preocupados com algum tipo de fiscalização. Ele é gentilmente convidado por eles a passar a noite no vilarejo, já que, segundo eles, já perdeu o último ônibus de volta.
Ele aceita e é levado por eles até uma espécie de buraco, dentro do qual está a casa onde mora uma mulher sozinha. Ela lhe conta que perdeu o marido e o filho numa tempestade de areia (taifu). A mulher lhe oferece uma janta e segura um guarda-chuva aberto para que a areia que entra pelo teto não caia sobre sua comida. Mais tarde ela precisa sair para retirar a areia que se acumulou durante o dia.
Ele ouve, curioso, as histórias que a mulher lhe conta sobre a vida nas dunas. Não acredita em muitas das coisas que ela lhe conta, afinal ele já leu muito sobre a areia. Ela diz que precisa trabalhar à noite, quando a areia está úmida. Segundo ela, a areia seca durante o dia é muito perigosa, desaba. Lutar contra a areia era o dia-a-dia daquela mulher, que não tinha nenhuma chance contra a incrível força da natureza. Ele pensa que talvez fosse possível se aproveitar das características da areia ao invés de tentar ir contra elas, mas vai dormir sem muito se preocupar com os afazeres dela.
Todas as casas precisam se livrar da areia acumulada. Caminhões passam para recolher a areia. Dessa atividade depende a segurança de toda a vila. Caso uma das casas desabe, todas as outras acabariam sendo sugadas também.
No dia seguinte, quando acorda ele se dá conta de que a escada de acesso foi retirada. A mulher mantém silêncio. Não dá explicações. Procura, na medida do possível agradá-lo. Conseguindo até jornal para que ele possa ler. Sozinha ela não pode dar conta do trabalho e representa perigo para a vila.
O primeiro instinto do professor foi de bater naquela mulher, mas então teve a sensação de que tudo fazia parte de um plano. Se ele batesse na mulher, seria como se acomodar. O crime estava feito e ela teria pago por ele. Ele queria guardar suas forças para a fuga. Não iria se entregar àquela mulher.
Desde o começo, quando vê a mulher dormindo pelada para evitar o calor, ele sente ao mesmo tempo vergonha e desejo por aquela mulher tão suja e rústica.


Vergonha:

— Por se deixar guiar por instintos animais (sexo)
—Por aquela vida tão desumana, que ele nunca soube existir
— Por ela tomar conta dele (osewa ni naru)
— Por ela se mostrar envergonhada e quase que pedindo desculpas por ele estar ali

Desejo

— Por ela ser quase um animal
—Por uma certa inocência que ele vê nela
—Por, diferente da outra, não ser falsa


Ele procura resistir. Não quer se entregar a ela (corpo e alma). Acredita que no momento em que ceder ao desejo que sente por ela e que ela também sente por ele, estará realmente se entregando ao jogo dos aldeões. Ninguém poderia fazê-lo trabalhar contra a sua própria vontade. Ele tenta de várias maneiras escapar daquele lugar:
— Primeiro ele tenta o mais óbvio, escalar o paredão de areia. O seu erro é fazer essa tentativa durante o dia, quando o sol é muito forte. Cai doente por insolação
— Finge continuar doente.
— Se nega a retirar a areia que se acumula sobre a casa e que pode acabar matando-os. Acha que quando os aldeões notarem que ele não vai fazer o que eles querem, ou seja, ajudar a mulher que agora sem marido nem filho não dá conta de todo o serviço, vão libertá-lo.
— Planeja uma revolta, amarrando a mulher e se negando a trabalhar. Acaba cedendo por causa da sede que sente.
— Uma vez consegue escapar, mas ao fugir dos aldeões e seus cachorros, acaba atolado na areia movediça e se vê obrigado a sucumbir.

O professor não desiste. Ele cria uma armadilha para corvos e espera conseguir colocar um pedido de socorro numa das patinhas da ave. Ele sabe que as chances de que alguém venha a ler o bilhete são restritas. Sabe também que o corvo pode acabar nas mãos dos aldeões, mas ele não perde as esperanças.
É graças a essa armadilha que o professor vem a descobrir que lençóis de água subterrâneos passam pela areia. Ele se enche de alegria. Pode fazer uma novo revolta sem se preocupar com a sede. Ele está muito próximo de conseguir fugir.
Nesse momento a mulher que está grávida precisa ser levada às pressas ao hospital. A aldeia está uma confusão. Nessa confusão, a escada de acesso é deixada à sua disposição. O professor mal pode acreditar. Ele sobe as escadas e chega até a rua. É aí que ele vem a descobrir que ele quer ficar ali. Sua nova descoberta só tem importância para aquela gente. É com eles que ele quer dividir o seu segredo.

Sobre a obra:

O domínio que os moradores locais tem sobre ele é tão visível que assusta, mas na verdade, todos nós somos dominados. Todos nós somos obrigados a fazer as mesmas coisas todos os dias pela nossa mera sobrevivência. O problema é que não nos damos conta.
Ele é um professor, atividade mais intelectual e ele fica pensando que é um desperdício ele estar ali cavando areia. Na verdade, qual é a diferença. Poucos de nós estamos realmente criando algo de novo. Estamos sempre cavando areia para que a sociedade não desmorone.
A vida do homem moderno é lembrada na forma de “fita de Möebius”, sem anverso ou reverso. O colega que ele chama de “fita de Möebius” é um sujeito argumentativo que parece não ter diferença nenhuma entre a atuação sindical e a vida particular. Essa é mais ou menos a sua situação presente do professor, vivendo como topeira, cavando um buraco. Cavar aquele buraco é seu trabalho e sua vida.
O único poder de barganha que temos é ameaçar deixar tudo isso de lado. Vamos esquecer que a sociedade pode nos matar e simplesmente não fazer nada. Mas então a sede, a fome e as ameaças físicas tomam conta de nós e acabamos cedendo.
Se nos empenhamos em ir contra a sociedade, descobrimos que ela é muito mais esperta e que dispõe de muitos mecanismos que nem imaginamos. Acabamos humilhados, pedindo por nossas vidas assim como o protagonista.
Conseguimos sair para a rua e experimentar o ar da liberdade. Logo descobrimos que nos deixamos levar para mais uma armadilha, a areia movediça. Acabamos sempre sem movimento, muito menos poder de decisão. O que nos resta são escolhas: morrer ou continuar na nossa existência sem vida, morrer ou entrar para o sistema.
Estamos sempre procurando uma fuga. Uma maneira de fugir do que nos prende. No caso do professor, essa fuga era a sua coleção de insetos e a possibilidade de encontrar uma nova espécime que ficaria com o seu nome. Uma nova espécime de inseto não é importante para o curso da humanidade, nem mesmo da sociedade em que está inserido, mas seria uma coisa que deixaria seu nome para a posteridade.
Depois que ele se encontra prisioneiro, quer fugir. Tenta de várias maneiras e tudo que consegue é ser humilhado. Quando ele finalmente faz uma grande descoberta, a água que brota da areia, ele de repente tem sua chance de fugir com escada e tudo. No entanto, se dá conta de que o que quer é estar ali com aquele povo primitivo e que tanto o oprime. Ali sim sua descoberta é de alguma utilidade e as pessoas se interessam pelo que ele tem a dizer.
Mais cedo ou mais tarde, nos damos conta de que tudo que lutamos contra e que queremos deixar para trás é na verdade o que nos torna humanos, úteis. Passamos a vida inteira trabalhando e depois de aposentados o que faremos, o que seremos. Isso também acontece em pequena escala quando estamos de férias. O que fazer, quando se pode fazer o que se quer? Não acabamos fazendo justamente o que fazemos no trabalho?


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